Há alguns anos, a Igreja
Episcopal Anglicana do Brasil – IEAB, através do Serviço Anglicano de Diaconia
e Desenvolvimento – SADD, tem encorajado pessoas a tomarem consciência de seus
direitos e transformarem a sua condição social. O SADD tem seis anos de
existência e nos últimos três anos tem trabalhado a luta pelos direitos de
todas as pessoas. Diante dos altos índices de violência contra as mulheres no
Brasil, entendeu-se que seria importante apresentar um instrumento para a
capacitação de pessoas interessadas em trabalhar esse tema na igreja, bem como
na sociedade.
No ranking mundial de
assassinatos, na comparação de 84 países em homicídio de mulheres, o Brasil
está em um dos primeiros postos, ocupando o 7º lugar. Em três décadas, ao menos
92 mil mulheres foram mortas dentro de seus lares. No ano de 2006 foi criada a
Lei Maria da Penha, considerada um dos avanços mais extraordinário dos últimos
tempos. Essa lei castiga com rigor os homens que atacam as companheiras e/ou
ex-companheiras, obrigando o poder público a montar uma rede de proteção a
mulheres vítimas de violência doméstica – delegacias, defensorias públicas,
promotorias e tribunais. A Lei Maria da Penha estabelece que também são crimes
o ataque sexual, o patrimonial, o psicológico e o moral – que costumam ser os
passos anteriores ao espancamento e ao assassinato.
As estatísticas mostram que a
cada 15 segundos, uma mulher é agredida no Brasil; a cada duas horas, uma
brasileira é assassinada; 53% das mulheres assassinadas tem entre 20 e 39 anos;
59% dos brasileiros conhecem uma mulher vítima de violência; 52% das mulheres
agredidas que procuram atendimento no SUS já foram atacadas antes; 65% dos
ataques a mulheres são cometidos por seus companheiros; 69% das agressões
contra mulheres ocorrem dentro de casa.
Todos esses dados devem ser
publicados e trabalhados nas diferentes instancias da sociedade para que
possamos combater esses índices. E cabe a cada cidadão e cidadã brasileira
assumir o seu papel nesse combate a Violência contra as Mulheres. A IEAB não
quer ser omissa nessa luta.
Como a Violência contra a Mulher
é um fato presente em todos os estados do Brasil, cremos que a elaboração dessa
cartilha irá contribuir para divulgação dos direitos das mulheres. Creio que o
trabalho da cartilha irá abrir os olhos das nossas comunidades espalhadas por
todo o território nacional para a luta pelos direitos das mulheres e pela
defesa de um lugar seguro para que as mulheres possam romper com todas as
formas de agressão e sejam livres para celebrar a vida. É chegada a hora
da igreja se envolver nessa luta. E à medida que esse debate for se
fortalecendo nas comunidades, a voz das mulheres começará a ser ouvida e o seu
clamor aos poucos chegará às lideranças locais, municipais, estaduais e
nacionais.
À medida que os membros das
comunidades vão se conscientizando das violências sofridas por suas mulheres,
não mais serão omissos e esperamos um compromisso da igreja na denuncia aos
agressores. Se conseguirmos Cesar o silêncio e a omissão, seremos vitoriosos na
luta contra a violência contra as mulheres.
A cerimônia de lançamento da
Cartilha aconteceu na noite de sexta-feira, 16 de agosto, na Catedral da
Ressurreição, em Brasília. Participaram do evento lideranças clericais e leigas
das dioceses que participavam do evento de formação para o uso da cartilha,
representantes de Senado Federal (Comissão de Direitos Humanos), a Christian
Aid e Anglican Alliance, os membros da Comissão Nacional da Verdade e do
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil.
Sandra Andrade
Coordenadora do SADD
Adm: Silviane Medeiros