Assim como diversas instituições religiosas, a
Igreja Episcopal e Anglicana do Brasil (IEAB) divulgou nota na qual defende o
respeito às leis e ao Estado Democrático de Direito no Brasil. “Estão em jogo
dois projetos de sociedade: um que prega a continuidade dos avanços dos
direitos sociais da maioria do povo brasileiro e outro que se constrói sobre
pressuposto conservador, autoritário e que serve apenas às elites e seus
interesses”, diz o texto.
A nota
conclama o povo brasileiro a respeitar democracia, “construída a duras penas e
banhada pelo sangue de homens e mulheres que deram a sua vida a serviço das
causas libertárias de uma sociedade justa”.
A IEAB afirma ainda que investigações para o combate à corrupção “são legítimas
somente quando existam provas concretas e quando garantem o direito à ampla
defesa. Interesses corporativos de órgãos da grande mídia não podem e não devem
ser ideologicamente seletivos e nem condenar a priori ninguém por causa de seu
perfil ideológico”.
De acordo com a instituição, “a tentativa de desqualificar pessoas como a
do ex-presidente Lula, sem provas concretas, bem como a outras pessoas com
perfil político mais à esquerda, é uma nítida estratégia corporativa que não
ajuda no processo de esclarecimento da verdade. Apenas acentua o caráter
político e agrava a tensão no meio da sociedade”.
O documento contextualiza a política brasileira no cenário internacional. “Este
é um processo global e latino-americano que tem realizado mudanças políticas
conservadoras, em prejuízo da ampla maioria do povo.”
A nota, emitida no último dia 12, pede ainda que se “evite qualquer manobra de
desconstrução do resultado das urnas” e o rechaço a “qualquer tentativa de
retorno ao autoritarismo e a qualquer modelo que represente cerceamento dos
direitos individuais e coletivos conquistados”. Por fim, a Igreja defende que
se respeite a livre manifestação do pensamento “dentro de padrões que não
contemplem o ódio e a violência contra pessoas e grupos”.
Confira a íntegra:
NOTA DO
PRIMAZ DA IEAB SOBRE O MOMENTO POLÍTICO BRASILEIRO
Considerando o ambiente político nacional e o clima de mobilizações políticas
destes últimos dias, desejo dirigir uma palavra pastoral a todas as pessoas
cidadãs de nosso país, prevenindo consequências cuja medida ainda não é
possível avaliar.
Desejo transmitir uma mensagem de esperança e confiança em nosso Deus para que
o diálogo respeitoso permaneça e as manifestações políticas aconteçam com o
respeito às leis e ao Estado Democrático de Direito.
A exacerbação de ânimos não pode extrapolar os limites das liberdades
constitucionais, conquistados pelo povo brasileiro e que não devem sofrer
qualquer recuo. Estão em jogo dois projetos de sociedade: um que prega a
continuidade dos avanços dos direitos sociais da maioria do povo brasileiro e
outro que se constrói sobre pressuposto conservador, autoritário e que serve
apenas às elites e seus interesses.
Diante disso, as Igrejas do Brasil conclamam o povo brasileiro a respeitar a
legalidade republicana e democrática, construída a duras penas e banhada pelo
sangue de homens e mulheres que deram a sua vida a serviço das causas
libertárias de uma sociedade justa, inclusiva e pacífica..
As investigações de corrupção cometidas por agentes do Estado em todos os
poderes em conluio com segmentos empresariais são um atentado contra o povo e
devem ser enfrentados com a lei e somente dentro dela. São legítimas somente
quando existam provas concretas e quando garantem o direito à ampla defesa.
Interesses corporativos de órgãos da grande mídia não podem e não devem ser
ideologicamente seletivos e nem condenar a priori ninguém por causa de seu
perfil ideológico. A tentativa de desqualificar pessoas como a do ex-presidente
Lula, sem provas concretas, bem como a outras pessoas com perfil político mais
à esquerda, é uma nítida estratégia corporativa que não ajuda no processo de
esclarecimento da verdade. Apenas acentua o caráter político e agrava a tensão
no meio da sociedade.
Este é um processo global e latinoamericano que tem realizado mudanças
políticas conservadoras, em prejuízo da ampla maioria do povo e tem provocado
desastroso retrocesso político que nossa consciência evangélica não deve
tolerar.
Mas há algo que não deve ser esquecido: jamais deixemos que o ódio prevaleça na
militância política e em meio às tensões que vivemos nestes tempos em nossa
sociedade. O ódio será sempre um mal conselheiro. Firmeza de convicções não
pode ser instrumentalizada pela eliminação simbólica de nossos opositores.
Portanto, dirijo uma palavra ao nosso povo anglicano, recomendando que se
observe o seguinte:
Que se respeite o estado democrático de direito e se evite qualquer manobra de
desconstrução do resultado das urnas;
Que se rechace qualquer tentativa de retorno ao autoritarismo e a qualquer
modelo que represente cerceamento dos direitos individuais e coletivos
conquistados;
Que se respeite a livre manifestação do pensamento dentro de padrões que não
contemplem o ódio e a violência contra pessoas e grupos;
Que Deus nos abençoe e que sejamos capazes de defender com firmeza um projeto
de sociedade que traga consigo os valores da justiça e da paz! Um projeto que
beneficie toda a sociedade. Que haja mais amor e menos ódio!
++FRANCISCO